PELA JANELA
Olhando da minha janela
Para aquele campo,
Tenho a nítida lembrança
De que ele outrora foi verdejante,
E feliz.
Era ele repleto de violetas de gencianas,
Rosas, sempre-vivas e jasmins,
O cheiro da hortelã miudinho,
Às vezes confundia-se
Com o cheiro da terra molhada,
A cada chuvarada cristalina,
Ou na frequência do orvalho
De cada amanhecer.
Olhando da minha janela
Para além daquele campo,
Percebo acima da colina,
A cabana onde ainda ontem
Eu fui feliz.
A cabana agora vazia de mim,
Tem um ar tristonho e insalubre.
A porta entreaberta,
Pende sobre si mesma,
Como se o próprio tempo
Determinasse seu cansaço.
Vidraças que dantes atiravam ao chão da sala
Mosaico intrigante multicor,
Agora tão apenas permite uma réstia de sol sem calor.
É aquela cabana agora, um cantinho abandonado,
Mas que já foi certamente,
O cantinho mais feliz deste lugar.
Nunca mais subi aquela colina,
Mas ainda lembro muito bem
Que do outro lado,
Existia um jardim pequenino,
E um cercadinho de toscos mourões,
Que daqui da minha janela não consigo avistar.
Mas ainda recordo das borboletas,
De asas pretas, amarelas e vermelhas,
Que desesperadas tentavam a todo custo escapar,
Da língua dos ligeiros camaleões,
Ou do bico famélico dos sabiás.
Fecho minha janela e procuro esquecer,
Que além da minha janela,
Um dia num tempo qualquer que se foi,
Havia um campo que já foi verdejante,
E que me levava àquela cabana por cima da colina,
Onde agora nada mais restou senão,
Uma porta entreaberta e pendente,
E esta saudade nunca mais ausente.
Poeta Mario
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