“Não há quem não feche os olhos
ao cantar a música favorita.
Não há quem não feche os olhos
ao beijar, não há quem não feche
os olhos ao abraçar.
Fechamos os olhos para garantir
a memória da memória.
É ali que a vida entra e perdura,
naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras.
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao
calor do remo.
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como
pedais da memória.
Experimenta-se uma vez mais aquilo
que não era possível.
Viver é boiar, recordar é nadar.
(Fabrício Carpinejar)
Fotógrafo: Mikhail Tarasov.
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