"Oi pai. (A intenção desta carta é te alcançar.)
Onde quer que você esteja, um feliz dia dos pais pra você.
Por aqui, o mundo continua. A vida segue. Mas em alguns dias, o vazio lateja mais forte.
Por aqui, continuamos a lida, errando às vezes, chorando às vezes, tentando dar corda na caixinha de música chamada felicidade.
Por aqui, pai, continuamos arriscando amores, inventando diálogos com as ausências. Continuamos olhando as fotos em preto e branco do passado onde você estava presente e a memória faz tudo ficar colorido. Porque, pai, você coloria tudo com seus olhos verdes e seu sorriso feito de temperos, jardins e sol.
Por aqui, tudo continua acontecendo, mesmo que por dentro, às vezes, tudo paralise. Porque a falta, pai, a falta é paralisia. A saudade é letárgica. Deixa tudo em suspenso.
Pai, eu queria que você visse tudo o que perdi e tudo o que ganhei. Eu queria que você tivesse participado mais das minhas lutas, presenciado minhas conquistas, pai. Tanta coisa que realizei apenas porque a base, pai, foi você quem me deu.
Em tantas coisas, pai, você está. Em meus gestos, meu jeito, minhas caras, meus atos, meu caráter.
Por aqui, continuo o legado do que você me ensinou, pai.
Você está presente diariamente, apesar de parecer, vez em quando, que o meu coração será engolido por um vazio abissal. Nessas datas importantes, pai, como hoje, dói até mesmo o que não há.
Principalmente o que não há.
Lá fora, os pássaros cantam como sempre, o vento sopra como sempre, amanhece e anoitece, como sempre e é tudo meio igual, mesmo que dentro seja tudo surreal e estático.
Um dia, pai, o tempo não importará mais. Porque estaremos de novo no mesmo plano, pai. Enquanto isso, saiba que a memória não morre.
A memória não morre.
Um abraço, pai. Do tamanho do tempo. Do tamanho da saudade."
Até breve.
Van Luchiari
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