sábado, 25 de maio de 2024

Perfeito...


Hoje eu tô encontrando só texto maravilhoso... Daqueles encantadores, bem do jeito que eu gosto...

Venho costurando minha vida 
com linhas de saudade. 
Procuro equilibrar-lhes a cor  para que o resultado final não seja triste. 
Por vezes, é o cinza que insiste; 
por vezes, impera o marrom. 
Ainda bem que tem saudade bonita; mudo o tom, amarro fitas, busco a outra ponta do novelo; intercalo a trama em amarelo. 
A saudade é assim mesmo, tecelã do tempo. 
Quando menos se espera, 
arremata o momento, leva embora,  deixa a porta encostada, o cadarço de fora, e nunca avisa a hora de voltar. 
Ainda hei de costurar com verde florescente e, se a saudade chegar autoritariamente, vai se sentir enfraquecida. 
Enquanto procuro a cor, vou costurando a vida, sem saber qual vai ser o resultado. 
Caso ele não fique combinado, 
dou um nó, encosto agulha, guardo a linha, que essa culpa roxa não é minha. 
É uma artimanha branca do passado.

Flora Figueiredo

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