domingo, 14 de outubro de 2018

PELA JANELA...


PELA JANELA

Olhando da minha janela Para aquele campo, Tenho a nítida lembrança De que ele outrora foi verdejante, E feliz. Era ele repleto de violetas de gencianas, Rosas, sempre-vivas e jasmins, O cheiro da hortelã miudinho, Às vezes confundia-se Com o cheiro da terra molhada, A cada chuvarada cristalina, Ou na frequência do orvalho De cada amanhecer. Olhando da minha janela Para além daquele campo, Percebo acima da colina, A cabana onde ainda ontem Eu fui feliz. A cabana agora vazia de mim, Tem um ar tristonho e insalubre. A porta entreaberta, Pende sobre si mesma, Como se o próprio tempo Determinasse seu cansaço. Vidraças que dantes atiravam ao chão da sala Mosaico intrigante multicor, Agora tão apenas permite uma réstia de sol sem calor. É aquela cabana agora, um cantinho abandonado, Mas que já foi certamente, O cantinho mais feliz deste lugar. Nunca mais subi aquela colina, Mas ainda lembro muito bem Que do outro lado, Existia um jardim pequenino, E um cercadinho de toscos mourões, Que daqui da minha janela não consigo avistar. Mas ainda recordo das borboletas, De asas pretas, amarelas e vermelhas, Que desesperadas tentavam a todo custo escapar, Da língua dos ligeiros camaleões, Ou do bico famélico dos sabiás. Fecho minha janela e procuro esquecer, Que além da minha janela, Um dia num tempo qualquer que se foi, Havia um campo que já foi verdejante, E que me levava àquela cabana por cima da colina, Onde agora nada mais restou senão, Uma porta entreaberta e pendente, E esta saudade nunca mais ausente.

Poeta Mario

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