domingo, 28 de janeiro de 2024

Gosto de fazer anos. Quando digo que gosto de fazer anos, não me refiro ao dia do aniversário em si, embora goste muito do mimo e da atenção que recebo, refiro-me aos anos que vou fazendo dia a dia, mês a mês, ano a ano. Refiro-me ao caminho que vou percorrendo, ao percurso que vou fazendo. Um percurso longo, de uma vida inteira, vivida por inteiro, de que cada dia de aniversário é uma janela aberta. Uma janela aberta para o que fiz e para o que quero fazer. Cada dia de aniversário é uma paragem para olhar para trás e para dentro e é também uma passagem para olhar para a frente e sempre para dentro. Não sou de festas, mas gosto de celebrar. A vida é motivo constante de celebração e não deve ser celebrada apenas no dia do nosso aniversário. A alegria deve ser um hábito diário, assim como a consciência de que a vida é uma dádiva maravilhosa e que devemos retribuir com aquilo que lhe acrescentamos. Com o que nos vamos acrescentando. A nossa vida não nos diz respeito só a nós. Toca a vida dos outros, às vezes até toca a vida dos outros para a frente.

Eu sei que o tempo passa. Sei que o corpo envelhece, como todas as coisas sujeitas a essa erosão dos dias, mas o corpo é só a parte de fora. O tesouro que guarda não perde o valor, antes aumenta com o que vivemos e fazemos viver. É essa a maravilha da vida. Acrescentarmo-nos todos os dias com o que aprendemos, com o que ensinamos, com o que partilhamos, com o que dividimos, com o que fazemos. Isto é que é fazer anos. O tesouro maior.

ilustração de Ivan Guaderrama

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