"DO QUE SOMOS...
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A gente é só o que permanece.
Só o que fica.
O que fica depois do susto, depois do cansaço, depois que o milagre foi atendido. Somos o que resta depois que a vela apaga, depois que a reza termina, depois que o anjo voa. O que fica depois do choro, depois da raiva, depois que o medo passa. Somos o que dura depois dos anos, depois da estrada, depois que inverno encerra. O que fica depois que a infância acaba, que a timidez se cansa, que as escolhas foram feitas. Somos o que sobrevive depois da festa, depois do abraço, depois do rosto lavado. O que fica depois do vinho, depois do mar, depois das promessas. Somos o que subsiste depois que o filho cresce, depois que os pais partem, depois que o beijo termina. O que fica depois dos julgamentos, dos pensamentos racionais, das paixões encantadas. Somos o que resiste depois que o livro acaba, que a cortina fecha e que a música para.
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A gente é só o que permanece.
Só o que fica depois que tudo passa.
O que sobrevive quando ninguém está vendo.
O que persiste depois que a história acaba, que o tempo age, que o silêncio grita.
O que habita o corpo refletido no espelho.
Somos tudo o que fica.
Tudo o que não fragmenta.
O resto “estamos”.
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É por isso que só o que somos não passa.
Só o lado de dentro permanece.
O resto é névoa, gás, risco de fumaça no céu.
Pode até ser bonito,
mas não dura.
Não dura."
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(Solange Maia)
Arte - Daniela Sosa
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