quarta-feira, 19 de maio de 2021

Costura por Érica Toledo


Costura
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Aos 15 anos, eu achava que o amor era seda finíssima, que cobria a visão dos amantes com um tom rosado.
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Aos 20, imaginei que era cetim. Brilhante, ruidoso e escorregadio. Cama para a perdição dos sentidos.
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Aos 25, me abriu a temporada da primavera. O amor virou pano de chita. Flores e fecundação. Reprodução colorida.
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Aos 30, desejei fazer uma colcha de retalhos, juntando das pessoas só os pedaços que eu gostava.
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Aos 35, minha alma sentiu frio e eu desejava o amor como um xaile jogado nos ombros.
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Aos 40, comecei a admirar os panos remendados, refeitos pela esperança, cerzidos com persistência.
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Já não desejo a bela toalha de banho engomada, que não seca o corpo. Ou o edredom novo, que não cola na pele.
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Entendi que amor é ninho. Trama reforçada para suportar os atritos. Tecido grosso que se costura nas roupas de criança na altura dos joelhos e dos cotovelos. Confiança e proteção.
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Fico imaginando o que irei aprender sobre o amor nos próximos anos.
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Talvez, tendo compreendido um pouco sobre o seu feitio, eu possa, agora, me dedicar aos delicados bordados à mão.



Érica Toledo

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