sexta-feira, 7 de maio de 2021

Fabrício Carpinejar


“Não há quem não feche os olhos 
ao cantar a música favorita.
Não há quem não feche os olhos 
ao beijar, não há quem não feche 
os olhos ao abraçar.
Fechamos os olhos para garantir 
a memória da memória.
É ali que a vida entra e perdura, 
naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras.
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao 
calor do remo.
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como 
pedais da memória.
Experimenta-se uma vez mais aquilo 
que não era possível.
Viver é boiar, recordar é nadar.

(Fabrício Carpinejar)

Fotógrafo: Mikhail Tarasov.

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