segunda-feira, 26 de julho de 2021

Cleonio Dourado


Chegamos em um tempo em que muita gente anda tão preocupada em se mostrar, que acaba se perdendo de si mesmo. A tela do celular virou a vitrine das pequenas ilusões, ocultas atrás das cortinas da mentira. Tem gente que perdeu a noção da realidade e já não consegue viver apenas sendo uma pessoa "só normal". 

Há uma cobrança coletiva por trás disso e o sucesso alheio incentiva a busca frenética de tentar ser igual, mesmo sem poder. Mal sabemos que em algumas situações, há pessoas com a alma ferida, tentando se mostrar forte e destemido. Há pessoas seduzidas pelas tentações de ego e de vaidade, entregando a vida em uma viagem virtual, tentando competir em um mundo irreal.

As redes sociais, quando mal utilizadas, forjam uma fábrica de ilusões. A verdade nem sempre é mostrada. Mil poses, mil filtros e não se chega na foto perfeita. Na busca pela aprovação, pintamos um quadro disforme da realidade vivida. Nem sempre é o que parece ser. Likes não pagam contas. Por vezes, há pessoas prestes a cair do precipício, mas ao invés de buscar ajuda, querem que todos pensem o contrário. Tá na merda, mas posta o luxo. 

A busca por "likes" transforma muitos em atletas da maratona das mentiras. A postagem dos outros se torna uma alfinetada pra provocar inveja, uma provocação onde é preciso revidar e ser melhor. Mudar a aparência não é o mais suficiente, é preciso fingir uma outra vida.

A sociedade como um todo tem sua parcela de culpa nisso, pois ela se reconfigura e abre os braços, quando se projeta uma imagem vitoriosa. Há uma aceitação maior. Há uma glorificação da figura do ser bonito, rico e perfeito. E não se enquadrar nisso é dolorido para quem tem a autoestima abalada demais ou até mesmo elevada demais. Um paradoxo difícil de compreender. 

O sonho de consumo que faz muitos se mostrarem alegres, bem-sucedidos e ir além do comum. Perfis devem ser perfeitos, pessoas incríveis, fotos bonitas, comidas gostosas, selfies maravilhosas, as festas mais chiques, os amigos mais sorridentes, as famílias mais impecáveis, empregos poderosos, romances maravilhosos, viagens inesquecíveis, status e fama: A melhor vida possível deve precisa ser vendida. 

Quando tudo isso é verdadeiro e realmente existe essa vida maravilhosa, é bom expor as conquistas, ostentar o sucesso e trabalhar o marketing pessoal. Isso faz parte da vaidade do bem e trás bem-estar pessoal. 

O perigo existe, quando parte do que é exibido não é real.

É complicado pensar que atualmente os níveis de felicidade, realização e sucesso das pessoas é calculado pelo número de likes que elas recebem. Cliques muitas vezes feitos por pessoas que nem se conhece. 

A vida não cobra perfeição, mas a sociedade gananciosa e competitiva, sim.

Talvez, por isso, seja necessário projetar a imagem de vencedor. Em muitos momentos todos nós sentimos a necessidade dessa aceitação virtual. O que acredito ser negativo, é quando isso vira modo de vida. Viver de ficção, gastando um dinheiro que não tem, fazendo dívidas que não pode e se enrolando todo para se sentir dentro da bolha dos belos e magníficos. 

É como se a felicidade interior só tivesse alguma serventia se exteriorizada, para que as outras pessoas vissem, curtissem e comentassem. 

Sei que muitas vezes a gente se sente assim, não sendo suficiente. Mas, se você precisa fingir uma vida para que ela caiba no mundo dos outros, saiba que nada disso vai te deixar mais feliz. E nem mais aceito. E nem mais bonito ou bem-sucedido. Vai ter o dia que isso tudo vai te fazer é mais triste. 

Se a gente tiver um coração bom e verdadeiro, as coisas mais simples podem fazer tua alma se carregar de felicidade real, aquela que não se pode por preço. Vale a pena a gente se mostrar como é e não deixar que as vaidades externas nos impeçam de existir.  

Mesmo que a tua vida não te coloque em palanques e palcos e não te traga prêmios e palmas, entenda que só ela importa. Ela é nobre, valiosa, interessante e verdadeira. O real é a coisa melhor e mais bela que a gente tem para mostrar. 

Cabeça nas nuvens é até poético, mas o simples “pé no chão” é apaixonante.

Avante.

Cleonio Dourado

Uau que texto!!! 👏👏

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